Numa tarde dessas em que o sol já se cansou 
 Numa rua dessas em que tropecei 
 Na boutique um rock inglês pra convidar o verão 
 E escondida no balcão a desenhar 
 A mulher mais linda 
 Meu cinema, meu filme francês 
    Lá do fim da rua eu via o cemitério onde deitou Truffaut 
 Entre as ruas de Amelie e entre os bares dos bobôs 
 Ela que vendia antiguidades e eu servia chá pra meia-idade 
 Quando a gente era vizinha ali da mesma solidão   
 Com um olhar de quem há tempos se cansou do amor 
 Me assistia como quem não vê mais porque 
 Se apaixonar se no fim restará só dor 
 E eu que nunca tive medo de chorar 
 Me apaixonei 
 Ela era linda demais pr'eu fugir   
 Eu a garçonete que vivia a Argélia ao norte de Paris 
 E ela a colecionadora do que o tempo já não quis 
 Eu fugindo da geografia à falta de um país mais meu 
 E ela enganando os anos com objetos já senis   
 Quando a gente escolhe se entregar ao que vier 
 E a gente deixa derramar cinema 
 E esquece do cinismo do filme europeu 
 Pra acreditar no amor que diz sentir aquele tal Romeu 
 Quando tudo ao lado dela vira cena 
 Com direção de arte e um roteiro bom 
 Todo dia a gente se escrevia histórias 
 E eu escrevia a espera de um final feliz   
 Entre os chás de menta que levava a ela só pra distrair 
 Ela dessas miniaturas e eu dos pratos de couscous 
 E a gente falava de quadrinhos e das brigas de Paris 
 E logo ao lado o Moulin Rouge fez cenário e eu compus   
 Doce jeito de se destravar da fuga enfim 
 Ou de assumir a fuga ao lado dela 
 E ela que fugia tanto, até fugia de mim 
 Mas a noite de Montmartre fez da moça um beijo em mim   
 E eu garçonete que vivia ela ao norte de paris 
 E ela colecionadora dos carinhos que lhe fiz 
 Eu fugindo pra geografia do coração ao lado meu 
 E ela enganando os anos nos dizendo que Paris 
 Duraria pra sempre, como eu 
 Duraria pra sempre, sempre, sempre ao lado seu