Lembra da nossa pele?
Continua a mesma
Porém nossos dentes
Quanta diferença
Viva o pobre-Deus dos desdentados
Viva esse país de esfomeados
Ordem, quartel, progresso
Tudo grana e sucesso
Hoje quem desfila na avenida
São nossos irmãos na contramão
Novos caetés ressuscitados
Comem padres e bispos no metrô
Traficam a fé, o vício e o amor
Só a marvada arte redime e emancipa
O resto é cipó, é tripa
É cacete, é nó
Novos caetés ressuscitados
Sem remorso, por cima de si sem dó
Sob o anil desse céu
Totem cruel total
Imponderável, acima do bem e do mal
Prescrevendo a conduta
Organizando a luta
Saque, barbárie, desunião, força bruta
Viva o pobre-Deus dos desdentados
Viva esse país de esfomeados
Ímpios, neo-infiés de ancestrais jesuítas
O cidadão canibal traz na mão a marmita
Quer revogar o jugo na aldeia maldita
Quer predação
Que os pobres comam os ricos
Oh, não
E os pretos comam os brancos
Com feijão e arroz
E que, depois, no final
Os índios comam os dois