- 1  Ao Cubo - Naquela Sala 
- 2  Ao Cubo - 1980 
- 3  Ao Cubo - Cicatrizes (part. Irmão Lázaro) 
- 4  Ao Cubo - Mil Desculpas 
- 5  Ao Cubo - Cinderela 
- 6  Ao Cubo - Filhos 
- 7  Ao Cubo - Nasci Pra Vencer 
- 8  Ao Cubo - Abençoado Por Deus 
- 9  Ao Cubo - Tche Güe Die 
- 10  Ao Cubo - Quem Te Viu (part. Thalles Roberto) 
- 11  Ao Cubo - Põe Na Conta 
- 12  Ao Cubo - Proibido Chorar 
- 13  Ao Cubo - Edvaldo Silva 
- 14  Ao Cubo - Sequestro 
- 15  Ao Cubo - Bye Bye Tristeza 
- 16  Ao Cubo - Um Por Todos (part. Dom Pixote, Elly Pretoriginal, GOG, Helião, MP XIII e Pregador Luo) 
- 17  Ao Cubo - Respeito É a Chave 
- 18  Ao Cubo - Incline Seus Ouvidos (part. Pregador Luo) 
- 19  Ao Cubo - Abraço 
- 20  Ao Cubo - Edvaldo a Origem 
- 21  Ao Cubo - Eu Vou Viver (part. Eli Soares) 
- 22  Ao Cubo - Mil Desculpas 
- 23  Ao Cubo - Choque 
- 24  Ao Cubo - Fora Quem Usa 
- 25  Ao Cubo - Edvaldo 3 
- 26  Ao Cubo - Na Missão 
- 27  Ao Cubo - Plano de Aborto 
- 28  Ao Cubo - Terra 
- 29  Ao Cubo - Entre o Desespero e a Esperança 
- 30  Ao Cubo - Respire Fundo 
- 31  Ao Cubo - Vaso 
- 32  Ao Cubo - Amanheceu 
- 33  Ao Cubo - Estamos Mas Não Somos (part. Matheus Bird) 
- 34  Ao Cubo - Grão de Areia (part. Adhemar de Campos) 
- 35  Ao Cubo - Ira Dos Vinte 
- 36  Ao Cubo - Se Renda 
- 37  Ao Cubo - Alforria 
- 38  Ao Cubo - Coração a Mil 
- 39  Ao Cubo - É Proibido Chorar (part. André Valadão) 
- 40  Ao Cubo - Estamos Mas Não Somos 
- 41  Ao Cubo - Kaboom (part. Felipe Vilela e Thiagão) 
- 42  Ao Cubo - Lagrimas 
- 43  Ao Cubo - Mãos ao Alto 
- 44  Ao Cubo - Não Tenho Palavras 
- 45  Ao Cubo - 365 Chances (part. Sync 3) 
- 46  Ao Cubo - Castelo de Madeira 
- 47  Ao Cubo - Fumaça 
- 48  Ao Cubo - Largado No Sofá 
- 49  Ao Cubo - Mil Desculpas 
- 50  Ao Cubo - Não Acabou 
- 51  Ao Cubo - Poesia Doce (part. 3 Palavrinhas) 
- 52  Ao Cubo - Vai se analisar 
- 53  Ao Cubo - Cópia 
- 54  Ao Cubo - Ira do Vinte 
- 55  Ao Cubo - Janela (part. Ton Carfi) 
- 56  Ao Cubo - Levanta e Vai 
- 57  Ao Cubo - Livre Arbítrio 
- 58  Ao Cubo - Meu Chamado 
- 59  Ao Cubo - Ordem e Progresso 
- 60  Ao Cubo - Ouvi Falar 
- 61  Ao Cubo - Pedro (part. Clovis) 
- 62  Ao Cubo - Pela Rua / Pelo Reino (part. Lucas Romeiro, Matheus Bird, Pelther, Rivací, ADL e Vitor Kivitz) 
- 63  Ao Cubo - Batalha 
- 64  Ao Cubo - Fôlego 
- 65  Ao Cubo - Game Over 
- 66  Ao Cubo - Liberdade 
- 67  Ao Cubo - Novo Dia 
- 68  Ao Cubo - Tudo Nosso (feat. Péricles) 
- 69  Ao Cubo - Venha Filho Meu (part. Templo Soul) 
- 70  Ao Cubo - Vinte Vinte 
- 71  Ao Cubo - Muita Tretze (part. Apocalipse 16 e Dj Alpiste) 
- 72  Ao Cubo - Na Missão 
- 73  Ao Cubo - Palmas 
- 74  Ao Cubo - Saudades 
- 75  Ao Cubo - Sequestro 
- 76  Ao Cubo - Só Em Contos 
- 77  Ao Cubo - Vale Ouro ( Depoimentos ) 
Edvaldo a Origem
Ao Cubo
Numa rua calma, no número 13
No portão pequeno vende-se biju
Fachada apagada, branca e azul
Em cima do muro um bichano circense
Quando o latido vira-lata não convence
Roupa pendurada no varal de bambu
E a sombra preguiçosa do pé de caju
Dois degraus e o chão vermelho desenha
Uma cozinha perfumada pelo fogão a lenha
Quem tem a senha tá de costas na pia
De chinelo de borracha e avental de bolinha
Por baixo um penhoar bordado de linha
Cabelo cacheado esconde a lágrima que pinga
A lágrima da desconfiança quem assina
É a personagem da história, dona Vilma
Casada por amor com autorização dos pais
Ainda era menor cinco anos atrás
Saíram de Goiás pro Bairro do Pari
E um casal apaixonado vencia o mundo ali
O juramento de amor intenso e eterno de Vilma e Ernesto
Veio refletir num brilho de glória
A menina Vitória
Seu sorriso os que choravam fazia sorrir
Suja de tinta, suada, faminta
Volta da escola e encontra o pranto da Vilma
Joga a mochila como um furacão Katrina
E abraça, não chora, mamãe comovida
O choro começou quando tocaram a campainha
E disseram pra Vilma que o marido a traía
Ela já sabia, mas não acreditava
Abatida, machucada, ferida, respondia
Protesto, meu marido eu não empresto
Ele é só meu e não tô nem aí pro resto
Trabalhador, fiel, honesto, um ótimo pai
Calúnia contra o Ernesto
O discurso foi bonito, mas murcho
Falou, falou, falou, mas não quis dizer muito
Se sentiu desonrada, sem rumo
Menos mulher, sem orgulho
Vilma, vou sair com a Vivi e não demoro
Logo tô de volta, não se esqueça, te adoro
E na manhã chuvosa, Ernesto de folga
Saiu pra passear com sua menina Vitória
Vilma tava em casa no seu passa tempo, a louça
Ouviu bater na porta o carteiro e sua bolsa
Tava encharcado, a chuva tava muito grossa
Entra e se enxuga, disse a menina moça
Coisas perversas visitaram o pensamento
E lembrou da conversa, da traição no momento
No fundo, no fundo ela ouviu tudo
E as palavras fofoqueiras encontraram refúgio
De pouco em pouco entrou no coração
Preciso dar àquele cachorro uma lição
Se aproximou do carteiro e sussurrou
O carteiro entendeu a mensagem, se encantou
Suma doçura, seu perfume depura
E aquele lago azul de ternura contaminou
E nisso Ernesto voltou, que desgosto
Viu na fresta da janela e escondeu o rosto
Ah! Martírio, tortura, agonia
Não acreditava o que seus olhos lhe dizia
O silêncio angustiante da morte o alcançou
Aquela morte que o corpo continua com dor
O suor pela têmpora, escorria
E a sua mão trêmula sacudia
E o sangue foi subindo, o ódio em sua mente
O punho contraindo, também contraía os dentes
Com a face sombria, sua honra partida
Pensou em muitas coisas, deu um frio na barriga
Olhou pra trás, a pequena Vitória
Entra no carro, filha, vamos embora!
Respirou fundo, atordoado, ficou confuso
Pôs a filha no carro, nem pôs o cinto e saiu disparado
O pneu careca, o farol queimado
É no pedal direito que se descarrega a raiva
A chuva tá mais forte e a estrada é uma tocaia
E quando, de repente, na curva do rio
Uma poça, a derrapagem, capotou e caiu
O resgate há dois dias na labuta da busca
Encontraram um Fusca tão torto que assusta
Um soldado cansado sem esperança resmunga
Que o rio levou os corpos e cadáver não afunda
No terceiro dia, na margem ao lado
Um corpo achado, inchado, desfigurado
Desanimaram, só um corpo e mais nada
Vilma sem família com a tristeza exata
Vestida de luto, em pânico aos soluços
Com a consciência e o coração imundo
Desgosto profundo, aflição amarga
Ninguém é preparado pra levar essa carga
Viúva sem trabalho, sem dinheiro
Já bastava, mas o fruto proibido do pecado não apaga
A fome, o cansaço invadiram sua casa
E a gravidez é o castigo, a chaga
A calma do ar, o silêncio do feto
Enfraqueceu seu ânimo, não tinha afeto
É só um objeto, e não é de Ernesto
Vou tirar isso de mim, com agulha eu espeto
Depois de todas tentativas do mundo
Prosseguiu a gravidez com um nojo profundo
Amargura, a dor aguda, lembrou da traição
A tristeza visitou novamente o coração
Aceitou o carteiro como esmola
Vilma queria sua família de volta
O carteiro Edvaldo aceitou a proposta
Se o filho não é dele, tudo bem, ele adota
Queria colocar o seu nome e sobrenome
Pra Vilma tanto faz, só não quer passar fome
Nasci com desprezo, odiado, indefeso
Sem esperança, com medo ao relento
Mas com o mesmo nariz, boca, cabelo crespo
Fisionomia de Ernesto, um homem preto
Um dia ainda quero me encontrar com a Vivi
Minha irmã que, sem eu ver, posso sentir
Meu pai, um grande homem que jamais a traiu
Morreu de desgosto antes de cair no rio
Queria ter meu pai de volta com vida
Pra nunca me chamarem de Edvaldo Silva