Na periferia o verdadeiro inferno
 
 Onde nascemos, vivemos, crescemos
 
 Provavelmente morreremos
 
 Não conte com o amanhã
 
 A violência corre solta por todos os lados
 
 Não há escapatória
 
 Salve-se quem puder
 
 Na lei de satanás quem não teme a morte
 
 Talvez não morra tão cedo, que sorte!
 
 Vejo crianças correndo
 
 E um beco escuro da favela
 
 Desespero, conflito
 
 Entre polícia e bandido
 
 Tiroteio na viela
 
 Um corre-corre fudido
 
 Já tem corpo estendido no chão
 
 Vejam só, será então um inocente?
 
 Uma criança que fatalmente
 
 Foi acertada por algum calibre
 
 Seu sonho acabou
 
 Acabou!
 
 Mundo cruel de periferia
 
 Que põe fim a uma vida
 
 Com uma bala perdida
 
 Travada nessa parada
 
 Entre polícia e bandido
 
 No D.P., o B.O. tinha o seguinte título:
 
 Que o disparo veio da arma de um bandido
 
 Um inocente está morto
 
 Mas ninguém quer assumir a culpa
 
 Está formada a injustiça
 
 Sofre periferia
 
 Sofre periferia...
 
  
  (Na periferia a lei é diferente
 
 Tem gambé na campana
 
 E muito pá-pá-pá
 
 Na periferia a lei é diferente)
 
 [Hoje estou vivo e digo,
 
 Convivo com a morte]
  
 
 Aqui extrema miséria, insegurança, conflitos,
 
 Convivência rotineira com a violência
 
 A condição de vida é precária e desumana
 
 Neste inferno não existe recurso pra nada
 
 A carência do serviço público
 
 Policiais corruptos
 
 O índice de consumo e venda de drogas é alto
 
 Brigas, intrigas, baixaria, acerto de contas
 
 Vacilou, a casa caiu, e aí?
 
 Se não aprender o verbo vai mijar para trás
 
 Pois a lei é "não sei, não vi
 
 Eu desconheço o fato!"
 
 Respeito é bom para poder viver mais
 
 Vejo crianças brincando sobre poças de lama
 
 Contando de um a dois
 
 Delirando com feijão com arroz
 
 Se adoecer morre na fila do P.S. Central
 
 O esgoto corre a céu aberto
 
 Mês de dezembro, choveu, fudeu
 
 E aí Tuta?
 
 Alagaram os barracos da Viela Nove
 
 Está formada a injustiça
 
 Sofre periferia
 
 Pode crer, mano
 
 Sofre periferia...
  
 
 (Na periferia a lei é diferente
 
 Tem gambé na campana
 
 E muito pá-pá-pá
 
 Na periferia a lei é diferente)
 
 [Hoje estou vivo e digo,
 
 Convivo com a morte]
  
 
 Aqui inferno brasileiro,
 
 Ninguém está a salvo
 
 Periferia, bairro pobre
 
 Logo adiante, aí, vira à esquerda
 
 Lugar de desova de justiceiros
 
 Que são ex-tiras na ativa
 
 Fique esperto, alerta vermelho,
 
 Inimigo na área, meu irmão
 
 Dispensa o flagrante
 
 Que são otários fardados armados
 
 Que abusam do poder
 
 Que invadem sua privacidade
 
 Violam nossas leis
 
 Passam por cima da nossa dignidade
 
 Matam, prendem, humilham
 
 Suas presas preferidas:
 
 Adolescentes, jovens negros da periferia
 
 E como sempre são condenados, enjaulados
 
 Conforme vejo o código penal
 
 Pois essas são as leis no Brasil
 
 Fazer o quê?
 
 A impunidade corre solta pelo esgoto da cidade
 
 Autoridades federais, estaduais, municipais
 
 Não agem de forma alguma contra os culpados
 
 E com certeza ainda colaboram
 
 Para o extermínio da população
 
 Está formada a injustiça,
 
 Sofre periferia
 
 Pode crer, mano
  
 
 (Na periferia a lei é diferente
 
 Tem gambé na campana
 
 E muito pá-pá-pá
 
 Na periferia a lei é diferente)
 
 [Hoje estou vivo e digo,
 
 Convivo com a morte]