Os ventos espalham saudades na noite inverneira 
 E o canto das corucacas é cincerro pro dia 
 Que no oeste se vai com o sol camperear outros campos 
 Deixando na noite que chega um ar de nostalgia 
    São repontes que a alma silente faz junto do peito 
 Ruminando o que se viveu num tempo passado 
 Tempos idos de farta alegria e até desencontros 
 Puros fatos que teceram meu jeito e conduziram meu fado   
 E entre um mate e outro reconto nos causos ao pé do braseiro 
 Convidando pra prosa a maior singeleza de um pinho chorão 
 E as corujas da noite nem piam escutando os lamentos 
 Bordoneados de afeto, junto a noite trigueira na paz do galpão   
 Meu eterno romance que o tempo escreveu 
 Ter saudades da vida que longe se vai 
 Os tempos de piá ou algum mal me quer 
 Um dia de outono que da lembrança não sai   
 Afinal o passado – de mango na mão – 
 É que enfrena o presente num passo seguro 
 E nessa cronologia tão pouco pensamos 
 Que esse mesmo presente já foi nosso futuro   
 “Por vezes ronda o mistério de momentos repetidos 
 Como se em algum instante aquilo já fora vivido 
 Será que não são saudades a vasculhar a lembrança 
 Tentando unir no presente o que encontrou semelhança?”