Oh, oh, oh, oh, uuh
Negro sim, história além do que cê vê
Oh, oh, oh, oh, uuh
Do passado, nóis vai erguendo de pé
Pés descalços no terreiro, sentinela de orixá
Meu bisavô fugiu da casa-grande, ninguém vai apagar
Da senzala ao Pelourinho, sangrando feito cana
Falo alto que é pra ouvir, cês tentaram calar minha gana
África pulsa no peito, tambor desafia a mão do rei
Foram séculos de açoite, mas meu povo não abaixou a lei
Quilombo é resistência, Palmares é lembrança
Hoje eu largo o grilhão, seguro firme a esperança
Na cor das contas, a força de Dandara
Zumbi acorda nas ruas, Mandela sussurra na palavra rara
Lei Áurea foi papel, mas nóis que rasgou corrente
Da Bahia ao Rio, ecoa o grito de gente consciente
Dos grilhões aos microfones, nóis não cala não
Ecoando no batidão, quebrando repressão
Soldado de Ogum, voz forte vem da raiz
Se hoje nóis tá livre, foi luta que fez país
1988 não pagou o que a dor deixou sem luz
Favela ainda sangra, mas preta é quem conduz
Marielle pediu voz, deram bala sem juízo
Mas cada preta viva, é outro corpo de aviso
Capoeira na laje, break na beira-mar
Ritual de candomblé misturando no samplear
Meu flow vem de navio, mas navega já sem acorrentar
Escravo virou rei no beat, ninguém vai me silenciar
Sistema tentou esconder que preto é base da cultura
Axé nos becos, funk no asfalto
Inventaram coroa, nóis tirou, fez cintura
Hoje é jazz com trap, ancestral costurando o salto
Dos grilhões aos microfones, nóis não cala não
Ecoando no batidão, quebrando repressão
Soldado de Ogum, voz forte vem da raiz
Se hoje nóis tá livre, foi luta que fez país
(Oh, oh)
Do samba ao rap, resistência respira
Filho da diáspora, mundo inteiro admira
Nem tudo é ferida, também riso e constructor
Orgulho preto é bandeira que o tempo não destroi
Uuh, uuh
Dos grilhões aos microfones, nóis não cala não
Ecoando no batidão, quebrando repressão
Soldado de Ogum, voz forte vem da raiz
Se hoje nóis tá livre, foi luta que fez país
Oh, oh, oh, oh, uuh (livre)
Meu som carrega séculos, ninguém apaga minha voz