Minha cúmplice, minha irmã, minha amante 
 que cedo se pôs a ir embora 
 é tão doído pra quem tem que ficar 
    (E os policiais, embora tivessem provas da sua inocência, 
 queriam te levar presa de qualquer maneira 
 sob a alegação de que você nasceu predestinada ao crime 
 a julgar pelos traços do seu rosto)   
 Só há uma luz de alcance curto 
 rastejante sob a porta 
 A vontade de dormir pra sempre 
 que eu não jamais chamaria de sono   
 E eu que ri quando te espiei 
 cantarolando em frente ao espelho 
 a menina mais bonita 
 com quem eu já feri meus ingênuos olhos provincianos   
 Quanto a mim, 
 há tanto tempo eu ando de bar em bar 
 pra fugir da solidão 
 que me levou a pedir aos céus para nascer de novo 
 mesmo sabendo que tal milagre é impossível   
 Quem sabe eu consiga 
 recuperar o gosto pela vida? 
 Assim eu espero, assim eu espero   
 (No presídio perto de casa, 
 as mães chorosas repetiam com extremo fervor: 
 "Para uma existência que não se justifica, 
 só há conforto nos braços do Senhor")