1. 1

    Juliano Holanda - Ouriço

  2. 2

    Juliano Holanda - Vento Parado

  3. 3

    Juliano Holanda - Não Me Deixe (part. Laila Garin)

  4. 4

    Juliano Holanda - Já Era Tarde

  5. 5

    Juliano Holanda - Cair Em Si

  6. 6

    Juliano Holanda - Farol

  7. 7

    Juliano Holanda - Imãs de Geladeira

  8. 8

    Juliano Holanda - Por Onde As Casas Andam Em Silêncio

  9. 9

    Juliano Holanda - Súmula

  10. 10

    Juliano Holanda - A Espera

  11. 11

    Juliano Holanda - Altas Madrugadas

  12. 12

    Juliano Holanda - Antes e Depois

  13. 13

    Juliano Holanda - As Pessoas

  14. 14

    Juliano Holanda - Como Quem Arrasta Tubarões

  15. 15

    Juliano Holanda - Cuidado

  16. 16

    Juliano Holanda - Daqui da Lua

  17. 17

    Juliano Holanda - Dimensão

  18. 18

    Juliano Holanda - Domingo No Sítio

  19. 19

    Juliano Holanda - Feriado

  20. 20

    Juliano Holanda - Haja Terapia

  21. 21

    Juliano Holanda - Horizontal

  22. 22

    Juliano Holanda - Karma Sutra

  23. 23

    Juliano Holanda - Morada

  24. 24

    Juliano Holanda - Na Primeira Cadeira

  25. 25

    Juliano Holanda - Nos Sinais

  26. 26

    Juliano Holanda - Olhos Que Afagam (part. Martins)

  27. 27

    Juliano Holanda - Os Sinos

  28. 28

    Juliano Holanda - Plano Sequência

  29. 29

    Juliano Holanda - Prefácio

  30. 30

    Juliano Holanda - Ser Leve

  31. 31

    Juliano Holanda - Um Passo

  32. 32

    Juliano Holanda - Vasta Rede

Karma Sutra

Juliano Holanda

Calo e não falo de medo
Calos na ponta dos dedos
Arranco a pele no dente
Não aponto mais estrelas
Não fecho nem bato gavetas
Lavo mágoas
Traço metas semestrais
Finjo, não guardo segredos
Nego, não meço conselhos
Rasgo a carne no dente
Carrego um cravo no bolso
Esqueço as portas abertas
Deixo pegadas

Não acho nada demais em vagões
Trago, não mando recados
Fumo o cigarro dos outros
Olho por cima das lentes
Faço e desfaço no ato
Desato o nó dos meus dedos
Um passo em falso
E caio fora do laço
Ando caminhos inteiros
Escolho as ruas erradas
Corto os lábios no dente
Desenho palavras no rosto
Aqueço os pés na coberta
Digo nada

Nem vejo nada demais em vagões
Durmo e acordo mais magro
Cavo um buraco, me enterro
Arrasto grossas correntes
Desperto sempre cansado
E torço grades de ferro
Guardo migalhas

Vivo pequenos desertos
Levanto e sento ligeiro
Sento e levanto de novo
Escrevo cartas urgentes
Nasci com os olhos fechados
Só durmo de luz acesa
De madrugada
Carrego o corpo e a saudade em vagões
Esquento os ossos no fogo
Almoço livros e discos
Uso camisas e pentes
Cuspo sementes e salmos
Atravessando os ouvidos

Rotas e mares
Compro velas e cristais
Tropeço nos móveis da sala
Prefiro insetos pequenos
Procuro um verso decente
Corro e não fico parado
Calado, falo sozinho
Penso mais alto:
Não acho nada demais em vagões

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