Os Filhos de Gardel

Laura Canoura

Começaram a sonhar com o regresso
Na porta principal do aeroporto
As malas repletas de ilusões
Os bolsos vazios e com medo
Se levaram na memória o obelisco
As silhuetas da Praça Liberdade
E no meio do peito a saudade
Para abri-la em um presente no Natal

Os filhos de Gardel nunca pensaram
Que aquilo de voltar era real
Se agarraram ao lugar com alfinetes
E deixaram as malas sem guardar

Acima de tudo falam sempre em uruguaio
Ainda que ninguém os entenda, que importa?
E praticam o desapego de tempo em tempo
Quando vêm que com seus filhos é igual
Às vezes lhes mandamos umas fotos
Com a avenida beira-mar ou o calçadão Sarandi
Para tornar-lhes mais leve o desapego
Ao País aonde se foram a emigrar

Mas há outros que se foram sem lembranças
Ainda que a alma lhes doesse quase igual
Levaram só o vos de clandestino
E deixaram esquecido o ta e o chau
Têm filhos em Paris, em Barcelona
Que conhecem o Uruguay por uma postal
Na casa só se fala em outra língua
E a origem só aparece na cédula de identidade

Os filhos de Gardel sempre souberam
Que a Pátria é algo mais que identidade
Se agarraram ao lugar como puderam
E guardaram as malas no sótão

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