- 1
Luiz Marenco - Batendo Água
- 2
Luiz Marenco - Quando O Verso Vem Pras Casa
- 3
Luiz Marenco - Senhor Das Manhãs de Maio
- 4
Luiz Marenco - Rincão dos Touros
- 5
Luiz Marenco - Recuerdos da 28
- 6
Luiz Marenco - Filosofia de Andejo
- 7
Luiz Marenco - A Moda Martín Fierro
- 8
Luiz Marenco - Ressábios
- 9
Luiz Marenco - Estrela D'Álva
- 10
Luiz Marenco - Botando Um Pealo
- 11
Luiz Marenco - Milongão Pra Assobiar Desencilhando
- 12
Luiz Marenco - Cantador de Campanha
- 13
Luiz Marenco - Pra o Meu Consumo
- 14
Luiz Marenco - Na Baixada Do Manduca
- 15
Luiz Marenco - Onde Andará
- 16
Luiz Marenco - Os Silêncios Das Janelas do Povoado
- 17
Luiz Marenco - Campereando
- 18
Luiz Marenco - Milonga Das Tres Banderas
- 19
Luiz Marenco - A Campo Fora
- 20
Luiz Marenco - De Volta de Uma Tropeada
- 21
Luiz Marenco - Um Vistaço na Tropa
- 22
Luiz Marenco - Meus Amores
- 23
Luiz Marenco - Querência, Tempo e Ausência
- 24
Luiz Marenco - Estâncias da Fronteira
- 25
Luiz Marenco - Destinos
- 26
Luiz Marenco - Changueiro de Vida e Lida
- 27
Luiz Marenco - Enchendo os Olhos de Campo
- 28
Luiz Marenco - Meu Rancho
- 29
Luiz Marenco - Ritual de Fronteira
- 30
Luiz Marenco - Cada Interior
Enchendo os Olhos de Campo
Luiz Marenco
Um Angico nas brasas consome sem pressa seu cerno de lei
O meu cusco Ovelheiro fareja o suor da xerga estendida
Que descansa da lida e do lombo do Baio, meu trono de rei
Outro ronco de mate quebrava o murmúrio da chuva nas telhas
E o baeta vermelha, aberto em suas asas, pingava no chão
Imitando um Sol posto, largava de pouco a luz da janela
Empurrando a cancela, um ventito minuano assobiava no oitão
Pelo olhar da janela, a vista perdia-se pelo campo vasto
Verdejando o pasto, coxilha e canhada até a beira do rio
Um mangueirão grande, guardando um silêncio, dormido de pedras
E uma estrada de léguas são partes da história de alguém que partiu
Partiram pra longe, feito tantos do campo, feito cantos dos meus
Que, por conta de Deus e à procura demais, encilharam cavalos
E rumaram pra sempre, deixando o galpão, saudade e um mate
Pra, depois, n'outro embate, pelear por seu sonho e, talvez, encontrá-lo
Hoje, abro a janela e pergunto pro tempo: Por onde andarão?
Os que, aquí no galpão, cevaram amargos por conta da lida
E estenderam seus ponchos, baetas vermelhas de almas lavadas
Onde, em léguas de estradas, na calma das tropas, prosearam a vida
Só o silêncio das pedras e água da chuva que encharca a mangueira
E uma dor costumeira, saudosa do tempo, me fazem costado
Vejo o Angico nas cinzas e o cusco Ovelheiro deitado num canto
E encho os olhos de campo, de água e saudade, lembrando o passado
Vejo o Angico nas cinzas e o cusco Ovelheiro deitado num canto
E encho os olhos de campo, de água e saudade, lembrando o passado
Manhãzita de maio, manhãzita de maio