Meu coração parece até que te adivinha
 
 Facão na bainha, aluvião
 
 Luz do Sol que na casa de farinha
 
 Desenha aleluia ao rés do chão
 
  
  Minha certeza tem um quê de coisa viva
 
 Uma casa caiada e a outra não
 
 A cacimba roubada na saliva
 
 Uma reza que lesa a escuridão
  
 
 Pela porta da frente a natureza
 
 Riqueza de uma parede nua
 
 Ecoa por todo quarto e sala
 
 A fala de uma beleza crua
  
 
 Essa roupa que quara uma semana
 
 Essa cama de palha inda vazia
 
 Essa cria que mal nasceu, desmama
 
 E uma Lua que sai no meio-dia
  
 
 A vida franzina ensina grandezas
 
 A água salobra precisa do mar
  
 
 Meu coração parece até que se desfia
 
 Friagem na laje, aparição
 
 O feijão no fogão de alvenaria
 
 Uma nuvem de areia em procissão
  
 
 É que a saudade quer o mel da maniçoba
 
 A sombra do santo, a redenção
 
 Um pedaço de nada às vezes sobra
 
 O começo de tudo, intuição
  
 
 Pela porta da frente
 
 Sai no meio-dia
  
 
 A vida franzina ensina grandezas
 
 A água salobra precisa do mar