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Secos & Molhados - Sangue latino
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Secos & Molhados - Fala
- 3
Secos & Molhados - O patrão nosso de cada dia
- 4
Secos & Molhados - Amor
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Secos & Molhados - Flores Astrais
- 6
Secos & Molhados - O vira
- 7
Secos & Molhados - Primavera nos dentes
- 8
Secos & Molhados - Rosa de Hiroshima
- 9
Secos & Molhados - Assim assado
- 10
Secos & Molhados - Que Fim Levaram Todas As Flores?
- 11
Secos & Molhados - Mulher Barriguda
- 12
Secos & Molhados - Delírio...
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Secos & Molhados - El rey
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Secos & Molhados - Prece cósmica
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Secos & Molhados - Tercer Mundo
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Secos & Molhados - Rondó do capitão
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Secos & Molhados - As andorinhas
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Secos & Molhados - Não, não digas nada
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Secos & Molhados - O Doce e o Amargo
- 20
Secos & Molhados - O hierofante
- 21
Secos & Molhados - Os Portugueses Deixam a Língua Nos Trópicos
- 22
Secos & Molhados - Lindeza
- 23
Secos & Molhados - Preto Velho
- 24
Secos & Molhados - Aja
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Secos & Molhados - Anônimo Brasileiro
- 26
Secos & Molhados - Aquém-mar
- 27
Secos & Molhados - Aventurar
- 28
Secos & Molhados - De Mim Pra Você
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Secos & Molhados - Fios de Tempo
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Secos & Molhados - Folia de Reis
- 31
Secos & Molhados - O Soldado e o Anjo
- 32
Secos & Molhados - Sorte Cigana
- 33
Secos & Molhados - Tem Gente Com Fome
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Secos & Molhados - Toada & Rock & Mambo & Tango & etc.
- 35
Secos & Molhados - Urgente... Mais flores
- 36
Secos & Molhados - Angústia
- 37
Secos & Molhados - Barulho de Rock & Gesta
- 38
Secos & Molhados - Bye, Bye, Baby
- 39
Secos & Molhados - Cobra Coral Indiana
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Secos & Molhados - Dura Aquilo Que Passar Pelo Tempo Que Durar
- 41
Secos & Molhados - É Este Amor (Que Eu Te Amo)
- 42
Secos & Molhados - Estrábico-Democrático
- 43
Secos & Molhados - Eu Amo Dizer Te Amo
- 44
Secos & Molhados - Foi Só Amor
- 45
Secos & Molhados - Louca de Pedra
- 46
Secos & Molhados - Menino Bonito
- 47
Secos & Molhados - Minha Namorada
- 48
Secos & Molhados - Não vá se perder por ai
- 49
Secos & Molhados - O Menino de Sua Mãe
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Secos & Molhados - Puta
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Secos & Molhados - Roda Viva
- 52
Secos & Molhados - Última Lágrima
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Secos & Molhados - Vamos Tratar da Saúde
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Secos & Molhados - Vira Safado
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Secos & Molhados - Viva e Deixe Viver
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Secos & Molhados - Vôo
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Secos & Molhados - Armadilhas Com Vodu
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Secos & Molhados - Balada Pra Um Coiote
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Secos & Molhados - Bola de Berlim
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Secos & Molhados - Canção Errada
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Secos & Molhados - Cantinela
- 62
Secos & Molhados - Chato-Boy
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Secos & Molhados - Como Eu, Como Tu
- 64
Secos & Molhados - Contudo
- 65
Secos & Molhados - Da Boca Prá Fora
- 66
Secos & Molhados - Dilema Funky
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Secos & Molhados - Doce Doçura
- 68
Secos & Molhados - Donzela Dura
- 69
Secos & Molhados - Está Melhorando
- 70
Secos & Molhados - Eu Estou Fugindo de Casa
- 71
Secos & Molhados - Ex-amores
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Secos & Molhados - Fala Sério!
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Secos & Molhados - Feito Brasil Campeão
- 74
Secos & Molhados - Fingidores
- 75
Secos & Molhados - Fofoquinha
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Secos & Molhados - Guernica
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Secos & Molhados - Há Pessoas Que Precisam Imensamente de Você
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Secos & Molhados - Habitante da Guiné
- 79
Secos & Molhados - Homenzarrão
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Secos & Molhados - Insatisfação
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Secos & Molhados - Irina
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Secos & Molhados - Janelas Verdes
- 83
Secos & Molhados - Lá, Lá, Lá's
- 84
Secos & Molhados - Ladrões
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Secos & Molhados - Made in Brazil
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Secos & Molhados - Magica
- 87
Secos & Molhados - Mal Amada
- 88
Secos & Molhados - Máscara de Truta Replicada
- 89
Secos & Molhados - Medo Mulato
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Secos & Molhados - Meu Caro Inimigo
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Secos & Molhados - Meu Coração Não Pode Parar
- 92
Secos & Molhados - Muitas Pessoas
- 93
Secos & Molhados - Musicar
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Secos & Molhados - Não Tem Quereres!
- 95
Secos & Molhados - Oh! Canção Vulgar
- 96
Secos & Molhados - Oh! Mulher Infiel
- 97
Secos & Molhados - Os Metálicos Senhores Satanicos
- 98
Secos & Molhados - Pão, João
- 99
Secos & Molhados - Pelos Dois Cantos da Boca
- 100
Secos & Molhados - Perdido, Presumívelmente Morto
- 101
Secos & Molhados - Porque Você Não Me Escreve?
- 102
Secos & Molhados - Proibido Proibir
- 103
Secos & Molhados - Quadro Negro
- 104
Secos & Molhados - Qualquer Bobagem
- 105
Secos & Molhados - Quantas Canções É Preciso Cantar?
- 106
Secos & Molhados - Rita Lee
- 107
Secos & Molhados - Rock & Role cmigo
- 108
Secos & Molhados - Roído de Amor
- 109
Secos & Molhados - Romamticamente
- 110
Secos & Molhados - Romântico Vício de Mel
- 111
Secos & Molhados - Salve-se Quem Puder
- 112
Secos & Molhados - Sangue de Barata
- 113
Secos & Molhados - Se Sabe, Sabe
- 114
Secos & Molhados - Sem As Plumas, Numas
- 115
Secos & Molhados - Sem Rei Nem Rock
- 116
Secos & Molhados - Sida
- 117
Secos & Molhados - Sonho de Valsa, Dançei
- 118
Secos & Molhados - Sub Tropical
- 119
Secos & Molhados - Suicida
- 120
Secos & Molhados - Superfície do Planeta
- 121
Secos & Molhados - Tânia
- 122
Secos & Molhados - Tapupukitipa
- 123
Secos & Molhados - Teatro?
- 124
Secos & Molhados - Teimosa
- 125
Secos & Molhados - Tira o Leite
- 126
Secos & Molhados - Tocha
- 127
Secos & Molhados - Tom de Dó
- 128
Secos & Molhados - Tudo Errado
- 129
Secos & Molhados - Você Faz Amor Engraçado
- 130
Secos & Molhados - Zanzibar
- 131
Secos & Molhados - Zé Supervivo
Os Portugueses Deixam a Língua Nos Trópicos
Secos & Molhados
No mapa mestiço do meu corpo negro ou brasileiro
A mesma face enterrada no chão português da ibéria
E a mesma alma oceânica a caminho dos ventos
A mesma língua por dentro da língua falada nos espaços
Recônditos da alma morena dos antepassados recíprocos
Todos comuns ás virgens desfloradas pelos homens sem cor
Que punham lantejoulas no céu de cada ventre tropical
Ao sul das lânguidas praias margens da misteriosa atlântida
Quilhas rasgando os vendavais de cada aventura sem destino
Aí nasceram as bocas astrais para os signos dos deuses
Criando a mitologia dos afogados ao leme dos tempos
Resta essa lusíada chama agora liberta nas plagas continentais
Onde fermenta o sol no sal das obtusas claridades das sombras
Gerando a palavra nos corações misturados nos abismos das raças
Onde as pirâmides assinalam os sarcófagos do meu povo
Povo triturado pelas esferas e os cata-ventos imperdoáveis
Das bruxas que urdiram o maligno feitiço do império
E agora mortas expelem nas marés as fétidas fezes da história
Uma história que é preciso começar outra vez de zero
Um pedaço de pátria livre com essa chama lusíada
Líquida chama nos lábios de um futuro sem abortos
Expressão dos ventres da gestação austral
Ou das pequeninas ilhas dos golfos crioulos
Um beijo na boca do universo um beijo africano
Principalmente africano e brasileiro
Do zero ao êxtase um beijo íngreme na boca
Das líquidas palavras da mesma língua cósmica
Será uma fusão de asas salgadas pelas marés claras
Das praias assinaladas pelas âncoras ancestrais
E a mesma viagem andrógina dos bissexos da mesma pele
Desfraldando as bandeiras miscigenadas pelas lantejoulas
Um pedaço de pátria das pátrias procriadas
No mesmo verbo ardente de lírica melodia
Cantando amanhã as palavras somadas
Pelas gentes que esta língua em si mesmo procria
Meu sangue diluído nos poros do teu ser
Esse meu estar no mundo na tua pele sem cor
Colhendo os brasis nas selvas africanas
E as áfricas semeando no reino dos algarves
Quem será esse filho do grávido futuro
Que a tua boca oferece ao beijo redimido
Fecundado pelos séculos no mesmo chão sem pátria
Das pátrias do meu verbo do teu verbo nascido
Um pedaço uma gota uma única gota
Do teu perfil mestiço projetado nos astros
Singrando mares siderais á procura de rota
Os mares os mesmo mares nunca antes navegados
Que os despojos da história voltem ao restelo
Mas que essa chama livre para sempre viva
Num pedaço de pátria múltipla pátria amada
Feita de mil pedaços da alma do meu povo
Português em macau ou brasileiro em luanda
Africano da bahia ou crioulo europeu
Quando falas eu sei que nasceste de mim
Quando em mim nascias do meu pai do teu pai
Português infeliz nas andanças andadas
Palmilhou cicatrizes no rosto do tempo
E não sabe o que fazer das encruzilhadas
Nem das cruzes que pôs nas vertentes oblíquas
Português sem o gesto da própria mão direita
Decepadas nos becos das entranhas marinhas
(poentes de navalhas em horizontes mortos)
Com a vida esvaída nas correntes submersas
Português carregando os crepúsculos pesados
De uma podre velhice para estrumar a europa
Enforca-te no mar e nos próprios cabelos
Mas não morras deitado na cama da ibéria
Português que furaste os olhos ardentes
Para veres os confins dos confins da aventura
Não desistas agora das auroras urgentes
E volta para casa para nasceres de novo