Quando se viu pela primeira vez
 
 Na tela escura de seu celular
 
 Saiu de cena pra poder entrar
 
 E aliviar a sua timidez
 
 Vestiu um ego que não satisfez
 
 Dramatizou o vil da rotina
 
 Como fosse dádiva divina
 
 Queria só um pouco de atenção
 
 Mas encontrou a própria solidão
 
 Ela era só uma menina
 
  
  Abrir os olhos não lhe satisfez
 
 Entrou no escuro de seu celular
 
 Correu pro espelho pra se maquiar
 
 Pintou de dor a sua palidez
 
 E confiou sua primeira vez
 
 No rastro de um pai que não via
 
 Nem a própria mãe compreendia
 
 No passatempo de prazeres vãos
 
 Viu toda a graça escapar das mãos
 
 E voltou pra casa tão vazia
  
 
 Amanheceu tão logo se desfez
 
 Se abriu nos olhos de um celular
 
 Aliviou a tela ao entrar
 
 Tirou de cena toda a timidez
 
 Alimentou as redes de nudez
 
 Fantasiou o brio da rotina
 
 Fez de sua pele sua sina
 
 Se estilhaçou em cacos virtuais
 
 Nas aparências todos tão iguais
 
 Singularidades em ruína
  
 
 Entrou no escuro de sua palidez
 
 Estilhaçou seu corpo celular
 
 Saiu de cena pra se aliviar
 
 Vestiu o drama uma última vez
 
 Se liquidou em sua liquidez
 
 Viralizou no cio da ruína
 
 Ela era só uma menina
 
 Ninguém notou a sua depressão
 
 Seguiu o bando a deslizar a mão
 
 Para assegurar uma curtida