Vira a esquina sua presença fugidia
Tem os olhos perdidos em coisas raras e fantasmagóricas
O rejunte entre os blocos seria uma metáfora puríssima
Se você rompesse esse vazio
E somasse nossos corações anestesiados
Põe as mãos nos bolsos como quem
Tateia suas posses sem desejá-las
Refugia os olhos nas arbitrariedades urbanas
E contorna minha presença sem nenhum pesar
Contorna minha presença sem sequer dar por isso
Os fantasmas te rodeiam como se vocês cirandassem felizes
Eu invado a ciranda
Eu sou a árvore seca
Dá fruto em mim
Eu sou a rocha firme
Escala meus tormentos
Eu sou a tarde desmaiada
Captura-me com tuas lentes
Eu sou o abismo profundo
Cai-me sem pudor
Mas você dobra a esquina
Como se dobrasse mangas de camisa
E se preparasse para lavar as mãos
Você se equilibra no meio-fio
Como se planejasse um desencontro
Ou um trágico acidente
Você espera o sinal
(Eu já dei todos que tinha)
Você anda
Passa
E nada mais