Blues da Pequena Orfã

Antônio Altvater

E a jovem lua ainda engatinhava
quando o destino ensinou a nadar
O ford vermelho do pai afundava
Ladeira abaixo, rumo ao mar

Uma tragédia anunciada
Criança tão nova sem rumo sem lar

Ao longo dos anos que foram passando
O velho orfanato não pode agarrar
Os sonhos firmados da jovem sofrida
Queria uma história pra poder trilhar

de repente os muros ficaram pequenos
E num grande salto, se fez libertar

E as ruas malditas endureceram
Um coração tão cheio de dor
O que a iluminava eram os postes acesos
Menina tão jovem vendendo amor

No meio do frio da cidade cinza
A jovem Lua encontrou um protetor
Seus 23 anos num olhar cansado
Banhado em mágoa, angústia e dor

E os anos passaram com a graça divina
Porém o destino ainda ia aprontar
Viajando de férias, rumo a praia
Pequeno deslize custou se pagar

um ford 70 girava na ponte
E Lua sentia, sua hora chegar

E a fúria do mar que levou a família
Voltava e a filha queria levar

Por mais que lutasse contra seu destino
Não havia nada que pudesse salvar
Lembrou-se da cama de seu orfanato
Da vida nas ruas, da mãe e do pai

E os olhos de Lua enfim se fecharam
Mas um belo sorriso tomou seu lugar
Talvez o prazer por tudo que vivera
Ou por sentir a familia voltar

Talvez entendeu o sentido da vida
E agora o guarda no fundo do mar

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