Tem uma placa de Fanta encardida 
 A bodega da rua enladeirada 
 Meia dúzia de portas arqueadas 
 E uma grande ingazeira na esquina 
 A ladeira pra frente se declina 
 E a calçada vai reta nivelada 
 Forma palmos de altura de calçada 
 Que nos dias de feira o bodegueiro 
 Faz comércio rasteiro e barateiro 
 Num assoalho de lona amarelada. 
    Se espalha uma colcha de mangalho: 
 É cabestro, é cangalha e é peixeira 
 Urupema, pilão, desnatadeira 
 Candeeiro, cabaço e armador 
 Enxadeco, fueiro, e amolador 
 Alpercata, chicote e landuá 
 Arataca, bisaco e alguidar 
 Pé de cabra, chocalho e dobradiça 
 Se olhar duma vez dá uma doidiça 
 Que é capaz do matuto se endoidar.   
 É bodega pequena cor de gis 
 Sortimento surtindo grande efeito 
 Meia dúzia de frascos de confeito 
 Carrossel de açúcar dos guris 
 Querosene se encontra nos barris 
 Onde a gata amamenta a gataiada 
 Sacaria de boca arregaçada 
 Gargarejo de milhos e farelos 
 Dois ou três tamboretes em flagelo 
 Pro conforto de toda freguesada.   
 No balcão de madeira descascada 
 Duas torres de vidro são vitrines 
 A de cá mais parece um magazine 
 Com perfume e cartelas de Gillete 
 Brilhantina safada, canivete 
 Sabonete, batom... tudo entrempado 
 Filizolla balança bem ao lado 
 Seus dois pratos com pesos reluzentes 
 Dá justeza de peso a toda gente 
 Convencendo o freguês desconfiado.   
 A Segunda vitrine é de pão doce 
 É tareco, siquilho e cocorote 
 Broa, solda, bolacha de pacote 
 Bolo fofo e jaú esfarofado 
 Um porrete serrado e lapidado 
 Faz o peso prum março de papel 
 Se embrulha de tudo a granel 
 E por dentro se encontra uma gaveta 
 Donde desembainha-se a caderneta 
 Do freguês pagador e mais fiel.   
 Prateleiras são tábuas enjanbradas 
 Com um caibro servindo de escora 
 Tem também não sei qual Nossa Senhora 
 Com um jarrinho de louça bem do lado 
 Um trapézio de flandres areados 
 Um jirau com manteiga de latão 
 Encostado ao lado do balcão 
 Um caneiro embicando uma lapada 
 Passa as costas da mão pelas beiçadas 
 Se apruma e sai dando trupicão.   
 Tem cabides de copos pendurados 
 E um curral de cachaça e de conhaque 
 Logo ao lado se vê carne de charque 
 Tira gosto dos goles caneados 
 Pelotões de garrafas bem fardados 
 Nas paredes e dentro dos caixotes 
 Uma rodilha de fumo dando um bote 
 E um trinchete enfiado num sabão 
 E o bodegueiro despacha ao artesão 
 Um parafuso de cabo de serrote.