Vou dizer como é que eu era 
 Antes de ser de maria: 
 Era um cabra corajoso 
 Precipitoso e ferino 
 Desses que só bate pino 
 Prá Deus pai, prá Deus menino 
 Pros assuntos do divino 
 E pro time de Jesus. 
    Parente de grau chegado 
 Do capitão virgulino 
 Resolvedor de pepino 
 De pontaria aguçada… 
 E nessa vida aloprada 
 Vez por outra eu chumbregava 
 Beijava, cafunezava 
 Mas não sentia paixão.   
 Não falava voz de seda 
 Eu era coisura azeda… 
 Pensamento de limão. 
 Mas um dia, meu cumpadre, 
 Relaxei a prontidão 
 E num piscar de relâmpo 
 Que nem um par de tamanco 
 Tava preso num cordão.   
 Era o cordão de maria 
 Caçula de seu bastim 
 Se rindo, se aprochegando 
 E os dentinhos mordiscando 
 Um pendãozim de capim. 
 O manhoso da danada 
 Era chave de prisão. 
 Com um balde, um rodo e um sabão 
 E aquela saia azulzinha 
 Assoalhando a cozinha 
 Surfando em pano de chão.   
 Aquilo não é serviço 
 Aquilo é mais um balé! 
 Panim de chão bem pisado 
 E os passinho pinicado 
 Perguntando: Tu me quer? 
 Eu confesso, meu cumpadre 
 Que´u que nunca fui pisado 
 Desejei ser espremido 
 Aberto e no chão botado 
 Banhado d´água e sabão 
 Desejei ser pisunhado 
 Pelos pezim da bondade 
 Desejei ser, na verdade, 
 Aquele panim de chão.   
 Juro perante o divino 
 Que, na hora e nesse dia 
 Bem dizer uma oração 
 Eu debrulhei prá maria:   
 Maria do andar azul 
 Maria ingrediente dengoso 
 Maria de saia acambraiada 
 Maria bordada 
 Maria aprendida sem pecado 
 Maria croqui da imaculada perfeição 
 Maria assassina da tristeza 
 Maria do colo quente 
 Maria cantina de suflê 
 Maria rosê 
 Maria isenta de partículas de feiúra 
 Maria doçura 
 Maria pressagiozinho calmoso 
 Maria que cutuca meu peito incutucável 
 Maria amorável 
 Maria água e sabão 
 Maria pano de chão 
 Maria belisca-flor 
 Maria mãe do frescor 
 Maria chuva dourada 
 Maria romanceada 
 Maria adubo do amor 
 Não faça eu diser: Amor 
 Meu amor