As canseiras desta vida
 
 Tanta mãe envelhecida
 
 A escovar
 
 A escovar
 
 A jaqueta carcomida
 
 Fica um farrapo a brilhar
 
  
  Cozinheira que se esmera
 
 Faz a sopa de miséria
 
 A contar
 
 A contar
 
 Os tostões da minha féria
 
 E a panela a protestar
  
 
 Dás as voltas ao suor
 
 Fim do mês é dia 30
 
 E a sexta é depois da quinta
 
 Sempre de mal a pior
  
 
 E cada um se lamenta
 
 Que isto assim não pode ser
 
 Que esta vida não se aguenta
 
 -o que é que se há-de fazer?
  
 
 Corta a carne, corta o peixe
 
 Não há pão que o preço deixe
 
 A poupar
 
 A poupar
 
 A notinha que se queixa
 
 Tão difícil de ganhar
  
 
 Anda a mãe do passarinho
 
 A acartar o pão pró ninho
 
 A cansar
 
 A cansar
 
 Com a lama do caminho
 
 Só se sabe lamentar
  
 
 É mentira, é verdade
 
 Vai o tempo, vem a idade
 
 A esticar
 
 A esticar
 
 A ilusão de liberdade
 
 Pra morrer sem acordar
  
 
 É na morte ou é na vida
 
 Que está a chave escondida
 
 Do portão
 
 Do portão
 
 Deste beco sem saída
 
 -qual será a solução?