1. 1

    José Mário Branco - Mudam-Se Os Tempos, Mudam-Se As Vontades

  2. 2

    José Mário Branco - Eu Vim de Longe

  3. 3

    José Mário Branco - FMI

  4. 4

    José Mário Branco - Inquietação

  5. 5

    José Mário Branco - Mariazinha

  6. 6

    José Mário Branco - O Charlatão

  7. 7

    José Mário Branco - Alerta

  8. 8

    José Mário Branco - Por Terras de França

  9. 9

    José Mário Branco - Queixa Das Almas Jovens Censuradas

  10. 10

    José Mário Branco - Eh Companheiro

  11. 11

    José Mário Branco - Cantiga do Fogo e da Guerra

  12. 12

    José Mário Branco - A Morte Nunca Existiu

  13. 13

    José Mário Branco - Cantiga Para Pedir Dois Tostões

  14. 14

    José Mário Branco - Engrenagem

  15. 15

    José Mário Branco - Onde Vais ó Caminheiro

  16. 16

    José Mário Branco - As Canseiras Desta Vida

  17. 17

    José Mário Branco - Margem de Certa Maneira

  18. 18

    José Mário Branco - Sant´Antoninho

  19. 19

    José Mário Branco - Tiro-no-liro

  20. 20

    José Mário Branco - Cantiga da Velha Mãe e Dos Seus Dois Filhos

  21. 21

    José Mário Branco - Capotes Brancos, Capotes Negros

  22. 22

    José Mário Branco - Quando Eu For Grande (Carta aos Meus Netos)

  23. 23

    José Mário Branco - Utopia

  24. 24

    José Mário Branco - Casa Comigo Marta

  25. 25

    José Mário Branco - Fado da Tristeza

  26. 26

    José Mário Branco - Perfilados De Medo

  27. 27

    José Mário Branco - Nevoeiro

Queixa Das Almas Jovens Censuradas

José Mário Branco

Dão-nos um lírio e um canivete
E uma alma para ir à escola
Mais um letreiro que promete
Raízes, hastes e corola

Dão-nos um mapa imaginário
Que tem a forma de uma cidade
Mais um relógio e um calendário
Onde não vem a nossa idade

Dão-nos a honra de manequim
Para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prêmio de ser assim
Sem pecado e sem inocência

Dão-nos um barco e um chapéu
Para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
Levado à cena num teatro

Penteiam-nos os crânios ermos
Com as cabeleiras das avós
Para jamais nos parecermos
Connosco quando estamos sós

Dão-nos um bolo que é a história
Da nossa historia sem enredo
E não nos soa na memória
Outra palavra para o medo

Temos fantasmas tão educados
Que adormecemos no seu ombro
Somos vazios despovoados
De personagens do assombro

Dão-nos a capa do evangelho
E um pacote de tabaco
Dão-nos um pente e um espelho
Pra pentearmos um macaco

Dão-nos um cravo preso à cabeça
E uma cabeça presa à cintura
Para que o corpo não pareça
A forma da alma que o procura

Dão-nos um esquife feito de ferro
Com embutidos de diamante
Para organizar já o enterro
Do nosso corpo mais adiante

Dão-nos um nome e um jornal
Um avião e um violino
Mas não nos dão o animal
Que espeta os cornos no destino

Dão-nos marujos de papelão
Com carimbo no passaporte
Por isso a nossa dimensão
Não é a vida, nem é a morte

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