Todos seguem uma agenda 
 Todos são os mesmos, afinal 
 Hoje a quarentona vai sair 
 Pois é noite de carnaval 
 E quando ela vê um moço 
 No dance ela vai direto ao ponto 
 Mais tarde ela diz pro moço 
    "Passe seu pau no meu coração" 
 Nada deixa alguém mais relaxado 
 Que sexo e também mais excitado 
 E quando ela estende suas pernas e diz sim 
 O vento não refresca sua bunda 
 E ela pensa no fim   
 O bêbado vai se vangloriar 
 Por ficar mais embriagado 
 Como se beber cerveja fosse 
 Te deixar menos atolado 
 O compositor toca na banda de samba 
 Com influências de carimbó 
 Hoje vai sair num bloco 
 E não vai voltar pra casa só 
 O que os dois tem em comum 
 Nada, além do fato de terem barba 
 E do fato de que os dois hoje transam 
 No desespero com garotas desmaiadas   
 O taxista hoje faz viagem 
 Com o homossexual 
 Ele pensa que ele é um playboy 
 Que tem uma fixação com sua região anal 
 A velhinha está voltando pra sua casa 
 Com dois vestidos que comprou 
 Vai vendo como bh é linda à noite 
 E as obras que ela não presenciou 
 Os três possuem o mesmo destino 
 Mas numa discussão sobre homofobia 
 O taxista atropela a velhinha 
 E põe fim à uma rara e longa vida de alegria   
 Hoje a evangélica vai direto 
 Pra batista da lagoinha 
 O curioso é que ela em sua mente 
 Se identifica muito com as feministas 
 O cuidado com seu corpo 
 E a liberdade de poder ter seus cabelos 
 As orientais com suas burcas 
 O desafio, enfim, é ser mulher 
 E no testemunho que a banda dá 
 Eles gritam que a indústria gospel é o inferno 
 E que ganhar dinheiro nunca foi louvar 
 E no céu não se entra quem usa terno   
 O idiota chega e diz 
 Que as drogas não trazem só malefício 
 Mas ele está farto de sua saliva 
 E se excitar agora é um sacrifício 
 Ele perdeu sua namorada 
 Que agora chora no chuveiro 
 Pensando em como ele a traiu 
 Enquanto a água escorre abraçando seu joelho 
 É, mas ele era tão charmoso 
 E ela sempre pensou que ele a merecia 
 O coração é um punho envolto de sangue 
 Que pulsa, que bate, que batia   
 Hoje a princesinha vai ser desejada 
 A cada dois segundos 
 O negro da periferia 
 Não encontra seu lugar no mundo 
 E no auge de sua loucura 
 Ele pensa que ela é o sol 
 E que é só o sol que brilha 
 O sol quando passa na pele negra 
 E até o dia que o sol 
 Se deitar de vez, ele irá brilhar 
 E todos os que tem a pele negra 
 Sem dúvida, irão brilhar também   
 Eu fui direto ao seu portão 
 Mas eu não chamei 
 Vocês cantavam a canção da glória 
 A canção da fantasia 
 Eu me lembrei de como eu já cantei 
 Também a canção da vida 
 E eu me peguei então 
 Cantando uma canção de minha própria autoria   
 A minha melodia é vã e arrogante 
 E parece engolir as outras melodias 
 Com a violência que é a minha voz 
 E que apesar de corajosa e arredia 
 No fim tende sempre a se juntar 
 A todas as outras melodias 
 Numa grande e estupenda harmonia 
 Num conjunto sublime e universal 
 Que soma a destruição e o amor 
 Num conjunto final 
 Carnaval