Sempre espero a segunda semana do mês
 
 Pra poder conversar
 
 Ouço de longe o chiado do portão
 
 E a buzina anuncia
 
  
  Você traz bem mais que a bagagem
 
 Você traz o remédio pra saudade
 
 “A vida na estrada é infeliz”
 
 Cê me diz
 
 Queria ver a filha
 
 “Ela vai ser atriz de novela”
 
 - Espero que ela não tenha o seu nariz
  
 
 Não há um segundo de tristeza no ar
 
 Nem pareço o velho que não dá bom dia
 
 Você faz troça da minha plantação
 
 Até esqueço que não chove desde fevereiro
  
 
 Não há ninguém mas talvez podem ouvir
 
 Por uma tarde o quanto a gente ri
 
 Não sei quando a vida começou a ser ruim
 
 Se quando tinha sua idade ou quando eu perdi Maria Elis
 
 E nunca mais eu vi Cristina minha filha
  
 
 Faz quatro anos e eu ainda espero
 
 A segunda semana de cada mês
 
 Você cansou, perdeu o emprego ou morreu
 
 Não sei qual é pior pensar dos três
 
 Toda desgraça na minha vida faz sentido
 
 Eu não fui homem, só era masculino
 
 É mais que justo pelo mal que fiz a minha Elis
 
 Nem lamentei e Cristina foi embora
 
 Você apareceu para desaparecer
 
 Eu vou ter tudo o que sempre mereci
 
 Viver chorando e carregando todo o peso
 
 Que coloquei na vida de uma menina
 
 Que levou pra bem longe a medida que ela começou
 
 A levitar