1. 1

    Mauricio Pereira - Trovoa

  2. 2

    Mauricio Pereira - Um Dia Útil

  3. 3

    Mauricio Pereira - Outono No Sudeste

  4. 4

    Mauricio Pereira - Pra Marte

  5. 5

    Mauricio Pereira - Deixa Eu Te Dizer

  6. 6

    Mauricio Pereira - Tudo por Ti

  7. 7

    Mauricio Pereira - Wanda

  8. 8

    Mauricio Pereira - 4 Letras

  9. 9

    Mauricio Pereira - Domingo Feliz

  10. 10

    Mauricio Pereira - Estrelas

  11. 11

    Mauricio Pereira - Férias na Índia

  12. 12

    Mauricio Pereira - Maldita Rodoviária

  13. 13

    Mauricio Pereira - Marcianita

  14. 14

    Mauricio Pereira - Mulheres de Bengalas

  15. 15

    Mauricio Pereira - Os Amigos Ou o Coração É Um Órgão

  16. 16

    Mauricio Pereira - A Loira da Caravan

  17. 17

    Mauricio Pereira - Chi è più Felice di Me?

  18. 18

    Mauricio Pereira - Florida

  19. 19

    Mauricio Pereira - Galopeira

  20. 20

    Mauricio Pereira - Pranto Para Comover Jonathan

  21. 21

    Mauricio Pereira - Ser Boi

  22. 22

    Mauricio Pereira - Toscana

  23. 23

    Mauricio Pereira - Um Tango

  24. 24

    Mauricio Pereira - Uma Loira

  25. 25

    Mauricio Pereira - Universo no teu Corpo

  26. 26

    Mauricio Pereira - A Mais

  27. 27

    Mauricio Pereira - A Praça

  28. 28

    Mauricio Pereira - Andas Seca

  29. 29

    Mauricio Pereira - Balangandans

  30. 30

    Mauricio Pereira - Cachorra

  31. 31

    Mauricio Pereira - Canção do Marinheiro (Cisne Branco)

  32. 32

    Mauricio Pereira - Cantando num Toró (Singing in the Rain)

  33. 33

    Mauricio Pereira - Cartas Pra Ti

  34. 34

    Mauricio Pereira - Compromisso

  35. 35

    Mauricio Pereira - Coyote (Coiote)

  36. 36

    Mauricio Pereira - Criancice

  37. 37

    Mauricio Pereira - Cristina

  38. 38

    Mauricio Pereira - Eu Sonhei que Tu Estavas tão Linda

  39. 39

    Mauricio Pereira - Imbarueri

  40. 40

    Mauricio Pereira - Iracema

  41. 41

    Mauricio Pereira - Meu Mundo e Nada Mais

  42. 42

    Mauricio Pereira - Modão de Pinheiros (Ou É Por Isso Que As Pessoas Mudam de Bairro)

  43. 43

    Mauricio Pereira - Motoboys, Girassóis, etc. e tal

  44. 44

    Mauricio Pereira - Muito Estranho

  45. 45

    Mauricio Pereira - Não Adianta Tentar Segurar o Choro

  46. 46

    Mauricio Pereira - Nós Três Mais Maria Eunice

  47. 47

    Mauricio Pereira - O Amor e o Poder

  48. 48

    Mauricio Pereira - O Dourado

  49. 49

    Mauricio Pereira - O Homem de Nazaré

  50. 50

    Mauricio Pereira - Pan Y Leche

  51. 51

    Mauricio Pereira - Penhasco

  52. 52

    Mauricio Pereira - Pingüim

  53. 53

    Mauricio Pereira - Piquenique No Horto

  54. 54

    Mauricio Pereira - Pot-pourri: Pensando Nela

  55. 55

    Mauricio Pereira - Pra Onde Que Eu Tava Indo

  56. 56

    Mauricio Pereira - Pra Que Vou Recordar o Que Chorei

  57. 57

    Mauricio Pereira - Quatro Dois Quatro

  58. 58

    Mauricio Pereira - Quieto Um Pouco

  59. 59

    Mauricio Pereira - Recipiente

  60. 60

    Mauricio Pereira - Responde Visconde

  61. 61

    Mauricio Pereira - Se Non Avessi Più Te

  62. 62

    Mauricio Pereira - Sou uma Criança Não Entendo Nada

  63. 63

    Mauricio Pereira - Três Homens, Três Celulares

  64. 64

    Mauricio Pereira - Truques Com Facas

  65. 65

    Mauricio Pereira - Tu

  66. 66

    Mauricio Pereira - Tudo Eu Te Dou

  67. 67

    Mauricio Pereira - Tudo Tinha Ruído

  68. 68

    Mauricio Pereira - Um Teco-Teco Amarelo em Chamas

  69. 69

    Mauricio Pereira - Uma Pedra

A cidade me paga. Me paga algum dinheiro qualquer pra que tarde da noite na madrugada de algum dia de semana eu saia da cidade e me mantenha quieto e só contra a escuridão quieta e só da noite quieta e estrelada ou não.

A cidade me paga. Me paga algum dinheiro qualquer pra que eu vá sentar lá no penhasco, ali um pouco além, junto do mar. Pra que exatamente eu fique ali um pouco além dos limites da cidade (que repousa já não tão à beira-mar...). Ali. Vigilante. E num certo sentido, alheio.

E é no breu que aflora o marulho vibrante. As baixas freqüências. O vento frio é doce e obedece à vida noturna: que tipo de resposta eles tão querendo que eu arranje imediatamente? Será que eu sou só café-com-leite?

A cidade me paga. Me paga algum dinheiro qualquer, e fica tudo por minha conta, tudo surdo, tudo apegado: a brisa do mar - agora chorosa - volta a cantar. Me conta de flores (já que as estrelas estão esgotadas). A meia-lua não entra. Meia-noite e meia. E nada.

Rastros de nada, nada de certeza reta. Feliz ou infelizmente, perguntas e mais perguntas. Esses leques de perguntas não têm fim, são simples e sem resolução. Matemáticas que não dependem de mim.

E eu volto pra a cidade com leques de perguntas sem fim. Sem chance. Eles querem respostas, propostas, fatos, qualquer coisa visível a olho nu. Um simples refrão já resolve, mata de contentamento. Mas por ora o que temos são perguntas.

Pergunta, resposta, coisa nenhuma, ninguém: eventualmente o vazio espesso sugere a sensação da presença ou da ausência de um deus. E ele esteve ali, agora mesmo, aos urros. E não deixou rastro um segundo depois (tendo ou não estado ali um segundo atrás).

E uma breve vez os ruídos no precipício foram sussurros de namorados. Eu me atirei pra a cidade, alegre. Dúzias de canções de amor na mão. Canções em que todos são felizes para sempre. Por quase um dia ou dois.

Não.

Na noite seguinte eu já confrontava a figura do penhasco na friagem marítima e a palavra especular tornava a ter o sentido justo de uma noite alguém sair do centro da cidade, transpor as muralhas, ir reto e lerdo pro centro da noite e nas beiradas do penhasco se tornar micróbio, respirar fundo e, sem pestanejar, saltar ligado, com os olhos bastante arregalados, rumo a novas coisas nenhumas. Esquadrinhar com as unhas um momento de pedra antes que ele atinja a velocidade do infinito. Ir dar de cara com rochedos incertos, costões antigos, o gosto salgado - gelado - das tais perguntas de sempre. Possíveis ou
impossíveis de fazer. Possíveis ou impossíveis de se perceber quais são. Possíveis ou impossíveis de se entender onde querem chegar.

E se incrustrar à não presença largada lá, lembrando, mais que escondendo, o quê e quem nos chegou pelas praias. Lágrimas de saudade. Lágrimas de remorso. Sua cabeça eternamente baixa. E um olhar que, enquanto isso, media possibilidades... A cidade me paga. Me paga algum dinheiro qualquer pra que tarde da noite, no meio da madrugada, eu saia da cidade quieto e só e vá penetrar a vertigem a seco, e vá perder o equilíbrio sobre o penhasco, além dos limites da cidade, tipo assim um farol desnorteado que chorasse de dor ao perceber que tenta clarear um caminho que não tem o poder de enxergar com a alma.

Vigilante e mais além.

Imóvel e mais além.

Quieto e mais além.

Só e mais além.

Nada. E mais além.

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