- 1
Noção De Nada - Antes Da Enchente
- 2
Noção De Nada - Diploma
- 3
Noção De Nada - Orgânico
- 4
Noção De Nada - Ímpar
- 5
Noção De Nada - Trajes E Comportamentos De Acordo Com Os Eventos E As Ocasiões
- 6
Noção De Nada - Vitrine
- 7
Noção De Nada - Conselhos Não Fizeram Mais Por Mim
- 8
Noção De Nada - Distância
- 9
Noção De Nada - Garçom, Sem Gelo Por Favor!
- 10
Noção De Nada - 12/06/00
- 11
Noção De Nada - Aspirina
- 12
Noção De Nada - Bem Estar II
- 13
Noção De Nada - Diário
- 14
Noção De Nada - Ela Não Sabe Ser Feliz
- 15
Noção De Nada - Esquina C.Gardel
- 16
Noção De Nada - Firmando
- 17
Noção De Nada - Mais Um de Seus Sorrisos
- 18
Noção De Nada - Mãos
- 19
Noção De Nada - Marca e Origem
- 20
Noção De Nada - Me Ensina (Dead Fish Cover)
- 21
Noção De Nada - Neoclassicismo
- 22
Noção De Nada - Nobres Influências
- 23
Noção De Nada - Only The Rages Survives
- 24
Noção De Nada - Outros Meios de se Ter
- 25
Noção De Nada - Restos seus
- 26
Noção De Nada - Tristes Fim
- 27
Noção De Nada - Antigas Manobras
- 28
Noção De Nada - Apenas Observações
- 29
Noção De Nada - Caminho Desigual
- 30
Noção De Nada - Copacabana
- 31
Noção De Nada - Diploma
- 32
Noção De Nada - Distantes Visões
- 33
Noção De Nada - Draspé
- 34
Noção De Nada - Expediente
- 35
Noção De Nada - Feio
- 36
Noção De Nada - Feliz
- 37
Noção De Nada - Gardel
- 38
Noção De Nada - Insiste Em Mostrar
- 39
Noção De Nada - Into Another Cyco
- 40
Noção De Nada - Já, Já, Sossego
- 41
Noção De Nada - Mais Um Fim
- 42
Noção De Nada - Mentiras, Verdades e Conhaque
- 43
Noção De Nada - Mostram-se Menores
- 44
Noção De Nada - Motivos
- 45
Noção De Nada - Nada
- 46
Noção De Nada - Não Aprendi Com a Última Vez
- 47
Noção De Nada - Não Que Eu Pense
- 48
Noção De Nada - Outra Vez
- 49
Noção De Nada - Pequeno Conto de Clarice
- 50
Noção De Nada - Perdas
- 51
Noção De Nada - Pés no Chão
- 52
Noção De Nada - Planos a Esquerda
- 53
Noção De Nada - Pode Parecer
- 54
Noção De Nada - Por Uns Tempos
- 55
Noção De Nada - Por Você
- 56
Noção De Nada - Propósito Nenhum
- 57
Noção De Nada - Quando Palavras Não Me Machucarem Mais
- 58
Noção De Nada - Quem é Inocente?
- 59
Noção De Nada - Quem sou eu?
- 60
Noção De Nada - Regressão
- 61
Noção De Nada - Roteiros
- 62
Noção De Nada - Se Repetir
- 63
Noção De Nada - Sempre Ter
- 64
Noção De Nada - Suas Promessas
- 65
Noção De Nada - Trust Ne
- 66
Noção De Nada - Um Segundo
- 67
Noção De Nada - Você e Suas Imposições
Pequeno Conto de Clarice
Noção De Nada
Pequeno Conto de Clarice
Que mistério tem Clarice, pra guardar-se assim tão firme no coração?
(Caetano Veloso - Clarice)
Clarice amava e seu amor era uma saudade que transbordava. Um eterno fim de verão. Em Clarice chovia garoa fina. E Clarice ilha que era, era silêncio e saudade.
A vida toda vazio castigado dos crimes de amor não cometidos. Acordava Clarice os olhos úmidos. Clarice caminhava exilada do mundo, esquecida da cidade, sempre coberta, sempre tão fechada.
Um dia Clarice viu ternura em olhos alheios, mas estavam alheios a ela os olhos lindos. Ela é que se iludiu, confundiu-se, ofuscou-se.
E Clarice agora sabendo disso tudo, do amor desperdiçado, ainda amava. Do mesmo jeito, talvez até mais, um amor devoto, amava inteira, os cabelos de Clarice, os seus pêlos, a pele, amavam.
Clarice tinha sonhos igual a todas as outras, Clarice sonhava dias de sol, verões e calor, Clarice ia dormir se despedindo do próprio quarto, talvez sonhasse para sempre, e acordar para dizer "bom dia" para as paredes? Dormir era melhor e sonhar com pontes e montes, com mares e rios, com abraços doces. Com a luz reflexo no lago.
Mas sempre ela acordava e Clarice era uma só, despedaçada e espalhada pelos cantos do mundo em que queria estar, juntar-se levava tempo. E sempre ainda, chovia garoa fina sobre os olhos.
Clarice era morena como as manhãs são morenas, era pequena no jeito de não ser quase ninguém. A não ser por que o amor que guiava, cego e gigante, tropeçava em sua vida e ocupava todos os espaços. Bagunçava a bagagem, borrava a maquiagem, era tatuagem invisível.
Mas Clarice às vezes era esperança, jogava garrafas aos mar. Acendia fogueiras, fazia sinais de fumaça, sorria invisível na esperança de receber de volta os sinais. E recebia eufórica pedaços de vidro das garrafa devolvidas, mensagens cortantes, cinzas do fogo que existiu em algum lugar e olhares, graças a Deus, olhares de quem percebeu o sorriso.
E viveu assim toda a vida, como uma metáfora.