Deixei o sangue secar por mais de um mês 
 E nunca iria parar 
 Seu sol é forte, mas só sabe queimar 
 Um lado de cada vez 
 Você é o sumo que corrompe meu ar 
 E borboleta infantil 
 Eu tô no lixo entre o café e o jantar 
 Que você não engoliu 
 Eu quero paz, mas eu não quero descanso 
 Nem macular seu mundo de concreto e sal 
 Correndo atrás do que eu não quero alcançar 
 Entre um vagão e o outro existe um vão 
 Inutilmente você insiste em zombar 
 Da primavera febril 
 Mas sabe bem como é difícil andar 
 Com cacos de vidro nos pés 
 Contra o bem e o mal 
 Contra o quê, tanto faz 
 No abstrato real ninguém é triste ou feliz 
 Pois não há como se estar onde não se existe 
 Na fila dos que não esperam nada 
 Na fila dos desesperados 
 No espaço entre as coisas 
 No espaço 
 Entre 
 As coisas 
 Entre no espaço entre as coisas 
 Deixei o sangue secar por mais de um mês 
 Um lado de cada vez