- 1
Socorro Lira - Senhora Santana
- 2
Socorro Lira - Deixa Viver
- 3
Socorro Lira - Calme
- 4
Socorro Lira - Delicadeza Nº1 (Delicado)
- 5
Socorro Lira - Delicadeza Nº2 (Da Coisa Linda)
- 6
Socorro Lira - Cantata
- 7
Socorro Lira - Gaia
- 8
Socorro Lira - O Desejo
- 9
Socorro Lira - Sede de Amor
- 10
Socorro Lira - Receita para um Cafuné Segundo Nega Xixiquinha Riá Caxongo
- 11
Socorro Lira - Saga de Retirante
- 12
Socorro Lira - Tem Gente Que Não Quer
- 13
Socorro Lira - Amália (fado)
- 14
Socorro Lira - Cantiga de Estória
- 15
Socorro Lira - Clareou
- 16
Socorro Lira - Corcunda
- 17
Socorro Lira - Delicadeza n° 5 (Absorta)
- 18
Socorro Lira - Delicadeza Nº 6 (Frágil)
- 19
Socorro Lira - Delicadeza Nº3 (Pata Humana Pata)
- 20
Socorro Lira - Delicadeza Nº4 (Casa e Janela)
- 21
Socorro Lira - Do Amor Escondido
- 22
Socorro Lira - Entre Estrelas (xote)
- 23
Socorro Lira - Eu e Uma Saudade
- 24
Socorro Lira - Lembranças
- 25
Socorro Lira - Mañana
- 26
Socorro Lira - Mundos... (Delicadeza 9)
- 27
Socorro Lira - Na Tal Terra Seca
- 28
Socorro Lira - Nas Estradas do Nordeste
- 29
Socorro Lira - Palavras
- 30
Socorro Lira - Pra Minha Aldeia
- 31
Socorro Lira - Pra vocês [Gonzaguinha e Gonzagão]
- 32
Socorro Lira - Sapato de Algodão
- 33
Socorro Lira - Serenata (Delicadeza 8)
- 34
Socorro Lira - Tema Dum Brinquedo Chamado Viver
- 35
Socorro Lira - Tudo É Baião
- 36
Socorro Lira - Zé Ninguém
Corcunda
Socorro Lira
Mais robusta que esse meu chão criou,
Foi a força dos anos que o vergou
E o curvou como estrada de ladeira.
Foi a enxada, a tua companheira
De uma vida inteira e mal vivida,
Sob o sol inclemente e desvalida
De uma sombra, de água e de conforto...
Eu não sei como ainda não estás morto,
Dando a tua sina por cumprida.
Galho vesgo...Meus dias também o são!
E sou eu, igual tu, pobre rebento
Desse tronco, de velho, já cinzento
Pelo quente que queima sem perdão.
Tuas curvas nas costas são, senão,
Testemunho fiel desse destrato,
Do destino cruel, do tempo ingrato.
Te roubaram o vigor e a saúde
E a pretexto da caridade ilude
Tua fé de roceiro, homem pacato.
Ao mirar cada sulco nesse rosto
Já se vê desenhar numa só cor
Cada golpe que o tempo, sem favor,
Aplicou-lhe por dever ou por gosto.
Cada ano sobre esses ombros posto
Vai pesando e seu corpo vai pendendo
Ao cansaço geral vai se rendendo.
O vigor que lhe dava a mocidade
Esvaiu-se sob o peso da idade,
Galho velho encurvado vai morrendo.
Quem o olha agora, assim, despido
Da folhagem e da viçosa rama
Sente que, lá por dentro, uma coisa inflama
De ver o teu suor tão consumido,
Sob o jugo da canga escorrido
A formar um riacho; e no seu leito
Um profundo buraco que, no peito,
Chega até suas águas despejar
A fazer do teu ser, um grande mar
De histórias e lutas todo feito.
E com sua licença, vou entrando
Ou quem sabe, tu entras em minh'alma
Inquieta, sem ter do mundo a calma,
De quem palma não pede suplicando.
Glória alguma está ela almejando,
Mas de ti solicita permissão
Para falar ao povo, à multidão
Que exposta, ao sol, está calada
E faz de conta que não tá vendo nada
E presume-se livre, na prisão.
Passarinho cantou na palmeira
Passarinho canta na palma