Não sei, não sabe ninguém
 
 Porque canto o fado,
 
 Neste tom magoado
 
 De dor e de pranto.
 
  
  Neste tormento, todo o sofrimento
 
 Eu sinto que a alma,
 
 Cá dentro se acalma,
 
 Nos versos que canto.
  
 
 Foi Deus,
 
 Que deu luz aos olhos
 
 Perfumou as rosas,
 
 Deu oiro ao Sol e prata ao Luar.
  
 
 Foi Deus,
 
 Q!ue me pôs no peito
 
 Um rosário de penas,
 
 Que vou desfiando e choro a cantar.
  
 
 E pôs as estrelas no céu,
 
 E fez o espaço sem fim,
 
 Deu o luto às andorinhas
 
 Aiii... e deu-me esta voz a mim.
  
 
 Se canto, não sei o que canto
 
 Misto de ventura,
 
 Saudade e ternura
 
 E talvez amor.
  
 
 Mas sei que cantando,
 
 Sinto mesmo quando,
 
 Se tenho um desgosto
 
 E o pranto no rosto, nos deixa melhor.
  
 
 Foi Deus,
 
 Que deu voz ao vento,
 
 Luz ao firmamento,
 
 E deu azul às ondas do mar.
  
 
 Foi Deus,
 
 Que me pôs no peito,
 
 Um rosário de penas,
 
 Que vou desfiando choro a cantar.
  
 
 Fez poeta o rouxinol,
 
 Pôs no campo o alecrim,
 
 Deu as flores à Primavera
 
 Aiii... e deu-me esta voz a mim!