Hoje canta a chuva e o trovão 
 Canta a vaga agreste, o mar 
 O menino não pode dormir 
 Mas tem medo de acordar 
 Hoje o pássaro não canta 
 Não se vê ninguém na praça 
 Hoje o dia nunca vai nascer 
 Perdeu-se na imensidão 
 O menino quer desaparecer 
 Por baixo do turbilhão 
    Hoje brilha a luz, a fruta, o deus 
 Dançam mulheres mil canduras 
 O menino só consegue ver 
 O fundo dessas figuras 
 Vê do tempo a despedida 
 Do azul vê a lonjura 
 O menino nunca vai morrer 
 Não tem história, é só ficção 
 O seu corpo é um antro de prazer 
 Esquecimento em combustão   
 Nem amor, nada te cura 
 Ninguém sabe se a loucura terá fundo 
 Mas acorda, acorda e canta 
 Até que a tua boca cante o mundo 
 Cante o mundo